quinta-feira, 17 de novembro de 2011

GRAPETE...

Eu era pequena, bem pequena. Não sei ao certo a idade, mas lembro como se fosse ontem. Meus  avós moravam numa casa de madeira verde, no bairro Partenon, aqui em Porto Alegre. Lembro do cheiro da casa – incrível  como certas lembranças ficam impregnadas em nós. Essa é uma das lembranças mais caras da minha infância. Lembro que meu avô me levava no armazém da esquina para tomar Grapete... Como era bom, doce e cheiroso... o Grapete? Não, o meu avô. Não consigo pensar em Grapete sem lembrar do meu avô. E o melhor... ele contrariava todas as ordens das matriarcas da família que  proibiam qualquer guloseima antes do almoço... Lá ia meu avô, segurando minha mão pequenina, no armazém de secos e molhados tomar Grapete. Afinal, a vida é feita de regras, certo? Muitos impedimentos são necessários para que as pessoas possam conviver. Sem regras as crianças comem fora de hora e não comem nada que presta. Para isso servem as mães, para colocar regras na mesa. Eu também fiz isso com meus filhos. É necessário, é correto, é seguro. Aos pais cabe a tarefa de educar, aos avós cabem... as Grapetes!!!
Mas não é de Grapete que quero falar hoje, é de amor. Amor que transforma, amor que alimenta, amor que toca profundamente e indelevelmente a alma. Amor conjugal? Não, este é profundo mas não é visceral. Falo de amor que corre nas veias, nas entranhas, que mesmo fora de hora é capaz de gestar e trazer à vida uma criança. Aquele amor que gruda em nós quando nascemos e não desgruda mais. Amor de pais e filhos, consangüíneos ou não. Esse amor é para sempre. É ele que faz o Grapete do meu avô ser único. É ele que nos faz lembrar de cheiros, gostos, imagens e emoções sem rosto ou forma. É nestas lembranças que nos refugiamos sempre que estamos perdidos ou com vontade de quebrar algumas regras. E nossa pequena mão encontra a mão segura do adulto que nos leva de volta para o doce sabor da Grapete.
Isso é tudo muito bonito, mas... e quando nos falta a Grapete? Em que mão adulta nossa pequena mão se refugia? Pior... quantas Grapetes eu tenho a oferecer a tantas pequeninas mãos que me procuram? Por que o almoço sempre tem que vir antes da Grapete? Que venham as boas surpresas de olhinhos brilhantes e mãos pequeninas que vão encher de vida e alegria o armazém de secos e molhados de nossas vidas. Eu tenho muitas Grapetes que meu avô me reservou naquela casa de madeira verde no bairro Partenon.


Cladismari Zambon

Nenhum comentário:

Postar um comentário