sexta-feira, 18 de novembro de 2011

CANEQUINHA...

Hoje o dia está realmente lindo. Sol brilhando... adoro cheiro de sol. Me faz lembrar coisas boas sempre... A claridade, o calor, o brilho dos raios do sol refletido em qualquer caquinho de vidro no chão... tudo fica lindo sob o sol. Acho que essa é a melhor definição que consigo ter da paixão... Acordar num dia ensolarado e ver tudo sob as cores e luzes do sol. Nada fica feio, nada fica triste, nada sem cor ou sem luz. Foi assim que acordei essa manhã... apaixonada! Apaixonada pela vida! Ainda na minha cama, vendo que o sol estava me observando através da janela, me senti seduzida a não levantar, a ficar ali, simplesmente me permitindo ser tocada por aquele raio intrometido de sol. Deixa o mundo lá fora, só mais um minuto aqui, que diferença faz? E a razão, aquele grilhinho chato que me cutuca, me trouxe de volta. Não posso viver apaixonada pelo sol sem morrer nas águas de Narciso. E foi a sensação mais suave de despertar que me fez levantar da cama e enfrentar mais um dia de trabalho, num dia de sol. Seria essa a definição de amor? Esse sentimento suave e perene de alegria que te move para frente, para a vida, para o outro? Carregar a energia da paixão amadurecida pela existência do outro é a grande charada do dia. É mais fácil trocar de objeto de paixão do que amadurecer com o outro.
E pensando nisso, vou contar a história de uma canequinha. Anos atrás, muitos anos mesmo, ganhei uma canequinha esmaltada, branca, pequena, com umas florezinhas desenhadas. Era bonitinha, mas bonita mesmo era a criança que trouxe a canequinha embrulhada num papel de presente. Era uma criança simples, um menino que eu atendia no consultório. Sempre pensei na minha profissão como um grande privilégio. Privilégio para mim, que encontrei pessoas reais e tive a oportunidade de receber delas muito mais do que o pagamento dos meus honorários. E um privilégio para quem consegue ser atendido e aceita o desafio de mudança que o simples fato corajoso de procurar ajuda implica. Pois bem, pensando egoisticamente no meu privilégio de aprender com meus pacientes, sempre recebi com alegria os que não podiam pagar. Fui egoísta, eu sei. Assumo. Mas era como o sol entrando na janela, não conseguia deixar de sorrir apaixonada para cada pequena alma que vinha brincar comigo. E eles se multiplicavam como flores desabrochando numa manhã  de primavera. E foi numa manhã de primavera, com o mesmo sol que me acordou hoje, que ganhei de um menino de olhos alegres e coração triste, a canequinha. Os olhos azuis e doces daquele menino me tocaram profundamente, nunca mais esqueci.
E ele me disse: Não é igual as xícaras bonitas que você tem, mas é de coração. Pedi pra minha mãe comprar.
Eu que não sou durona, nunca escondi sentimentos dos meus pacientes, abracei aquele menino e agradeci a canequinha linda. Tomamos um chá na canequinha nova. Depois do chá, lavamos cuidadosamente e a canequinha foi pra estante do consultório como um troféu muito precioso. O menino cresceu, não precisava mais dos meus olhares. Foi embora me deixando uma cartinha contando nossa história. Alguns anos depois recebo um telefonema, uma voz de homem perguntando se poderia marcar um horário. Quando chegou o horário programado... os mesmos olhos azuis e doces num rosto com barba. Meu menino tinha crescido, virou um homem. Os olhos dele percorreram a sala, que não era mais a mesma, elogiou os móveis novos, e parou na estante... lá estava a canequinha.
Por isso que amo acordar numa manhã ensolarada. Sempre me lembro de coisas boas que tive o privilégio de viver. Lembro com emoção e com saudade. Essas lembranças são como o brilho dos raios do sol refletidos nos caquinhos das minhas recordações. E aquilo que um dia foi paixão permanece como uma sensação suave e perene de alegria. Isso é amor!


Cladismari Zambon

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