quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

BORRA DE CAFÉ


Tem uma palavra que sempre me acompanhou... saudade. Desde sempre e para sempre a saudade faz parte da minha vida. Quando pequena aprendi que saudade é um sentimento dolorido por uma pessoa que gostamos mas não está presente. E como doía! Tinha saudade até de pessoas que ouvia falar mas nunca tinha visto. Com o tempo essa palavra foi ganhando outro significado e passei a reconhecer neste sentimento uma experiência única, pessoal e indispensável. Descobri que a saudade é inerente ao ser humano, que eu sinto e gosto de sentir saudade e que a saudade é o elo que me mantém ligada a tudo aquilo que faz de mim a pessoa que sou hoje. A saudade não é melancólica, não é triste, ela apenas traz de volta recordações, imagens que não podem se perder de mim. Ou eu não posso me perder delas...
E agora nos aproximamos do período em que as recordações nos assaltam de todas as formas. Fim de ano, festas, família... pessoas que não estão presentes... saudade. A mídia se encarrega de deixar nossas lágrimas sempre na beirinha da garganta... E a saudade... essa palavra é a única capaz de traduzir o coração apertado, o pensamento em outros lugares, em outras épocas. É a única capaz de dar um nome para as lembranças carregadas de sentimentos que nos afloram. Mas... alguém quer ficar sem elas? Quem se arriscaria a abrir mão delas? As pessoas que amamos não ficam eternamente ao nosso lado... infelizmente. Ficam as lembranças e saudade... muita saudade. E agora fazemos um balanço do ano que termina e vemos que elas nunca se foram totalmente, permanecem nos dando esperança e conforto. Não se tem saudade do que não foi bom... se permaneceu é porque marcou... marcou o coração e alma...
Este ano foi interessante para mim... longe de pessoas que amo, muitas viagens, conheci muitas pessoas em muitos lugares. Cresci muito, aprendi muito e minha cristaleira se enriqueceu de tantas histórias que nem sei como acomodá-las todas. Também foi um ano de algumas perdas mas sei que mesmo estas fazem parte do meu caminho de amadurecimento e vida. A cada perda... um recomeço. A cada recomeço... a chance de fazer diferente, de aprender mais e crescer. 
Mas... como lidar com o desconhecido que se apresenta a cada dia? A cada recomeço? O que eu conhecia era confortavelmente incômodo, mas era conhecido. É disso que tenho saudade? Não, claro que não. Mas também é! Saudade do conforto que sempre me lembra retorno ao lar e ao colo conhecido (mas já pequeno) da minha família. Colo que sempre vou buscar em todos os recomeços... que sempre acontecerão e se sucederão.
Então penso agora que saudade não me liga ao passado, ao que se foi de minha vida... Saudade me liga ao que virá, me liga a uma busca de recomeçar sem perder o que sempre busquei e vou continuar buscando. Saudade me liga ao futuro ao trazer essas recordações tão impregnadas na minha alma de porcelana. É como se eu buscasse em cada marca da minha xícara pistas do que vai acontecer... como uma leitura do futuro através de marcas de minhas saudades. Ouvi dizer que algumas pessoas têm o dom (ou a sensibilidade) de ler o futuro através da borra do café no fundo de uma xícara. Mas o que é a borra no fundo da xícara além de uma marca de algo que já se foi (o café) em minha experiência de vida? É o passado ditando meu recomeço, apontando caminhos, aliviando minha ânsia pelo desconhecido. Então... basta olhar para dentro de minha alma de porcelana que já não é tão branca e ler verdadeiramente o que a borra do café de minhas experiências tem para me dizer. Recomeçar com base nos acertos e erros que fizeram de minhas saudades uma vida de amor e fé. Fé no futuro que começou mesmo antes de eu nascer... minhas respostas estão todas lá... é só saber ler a borra de café no fundo de minhas saudades. 
Cladismari Zambon

2 comentários:

  1. Cladis querida!!!!
    Que pérola mais linda, que palavras doces e ao mesmo tempo deliciosamente deixam saudades. Saudades de um tempo lindo, que conheci uma pessoa que fala de saudade com tanta paixao, que me deixou com lagrimas nos olhos, de cabeca baixa, em frente desse computador, lembrando que ela declamou Clarice Lispector, num lugar lindo, numa noite linda, usando um vestido estampado de verde leve, assim como é a sua alma. Minha linda, como nao ser feliz, tendo saudades de alguem tao amada como voce! NAO ESQUECE QUE AMO VOCE!!!

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  2. Maria Aparecida, obrigada pelo carinho e pelas palavras doces... você nunca esquece aquela aula sobre o envelhecer e morrer... Beijão e sucesso!!

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