Tem uma palavra que sempre me acompanhou... saudade. Desde
sempre e para sempre a saudade faz parte da minha vida. Quando pequena aprendi
que saudade é um sentimento dolorido por uma pessoa que gostamos mas não está
presente. E como doía! Tinha saudade até de pessoas que ouvia falar mas nunca
tinha visto. Com o tempo essa palavra foi ganhando outro significado e passei a
reconhecer neste sentimento uma experiência única, pessoal e indispensável.
Descobri que a saudade é inerente ao ser humano, que eu sinto e gosto de sentir
saudade e que a saudade é o elo que me mantém ligada a tudo aquilo que faz de
mim a pessoa que sou hoje. A saudade não é melancólica, não é triste, ela apenas
traz de volta recordações, imagens que não podem se perder de mim. Ou eu não
posso me perder delas...
E agora nos aproximamos do período em que as recordações nos
assaltam de todas as formas. Fim de ano, festas, família... pessoas que não
estão presentes... saudade. A mídia se encarrega de deixar nossas lágrimas
sempre na beirinha da garganta... E a saudade... essa palavra é a única capaz
de traduzir o coração apertado, o pensamento em outros lugares, em outras
épocas. É a única capaz de dar um nome para as lembranças carregadas de
sentimentos que nos afloram. Mas... alguém quer ficar sem elas? Quem se
arriscaria a abrir mão delas? As pessoas que amamos não ficam eternamente ao
nosso lado... infelizmente. Ficam as lembranças e saudade... muita saudade. E
agora fazemos um balanço do ano que termina e vemos que elas nunca se foram
totalmente, permanecem nos dando esperança e conforto. Não se tem saudade do
que não foi bom... se permaneceu é porque marcou... marcou o coração e alma...
Este ano foi interessante para mim... longe de pessoas que
amo, muitas viagens, conheci muitas pessoas em muitos lugares. Cresci muito,
aprendi muito e minha cristaleira se enriqueceu de tantas histórias que nem sei
como acomodá-las todas. Também foi um ano de algumas perdas mas sei que mesmo
estas fazem parte do meu caminho de amadurecimento e vida. A cada perda... um
recomeço. A cada recomeço... a chance de fazer diferente, de aprender mais e
crescer.
Mas... como lidar com o desconhecido que se apresenta a cada dia? A
cada recomeço? O que eu conhecia era confortavelmente incômodo, mas era
conhecido. É disso que tenho saudade? Não, claro que não. Mas também é! Saudade
do conforto que sempre me lembra retorno ao lar e ao colo conhecido (mas já
pequeno) da minha família. Colo que sempre vou buscar em todos os recomeços...
que sempre acontecerão e se sucederão.
Então penso agora que saudade não me liga ao passado, ao que
se foi de minha vida... Saudade me liga ao que virá, me liga a uma busca de
recomeçar sem perder o que sempre busquei e vou continuar buscando. Saudade me
liga ao futuro ao trazer essas recordações tão impregnadas na minha alma de
porcelana. É como se eu buscasse em cada marca da minha xícara pistas do que
vai acontecer... como uma leitura do futuro através de marcas de minhas
saudades. Ouvi dizer que algumas pessoas têm o dom (ou a sensibilidade) de ler
o futuro através da borra do café no fundo de uma xícara. Mas o que é a borra
no fundo da xícara além de uma marca de algo que já se foi (o café) em minha
experiência de vida? É o passado ditando meu recomeço, apontando caminhos,
aliviando minha ânsia pelo desconhecido. Então... basta olhar para dentro de minha
alma de porcelana que já não é tão branca e ler verdadeiramente o que a borra
do café de minhas experiências tem para me dizer. Recomeçar com base nos
acertos e erros que fizeram de minhas saudades uma vida de amor e fé. Fé no
futuro que começou mesmo antes de eu nascer... minhas respostas estão todas
lá... é só saber ler a borra de café no fundo de minhas saudades.
Cladismari Zambon
Cladismari Zambon
Cladis querida!!!!
ResponderExcluirQue pérola mais linda, que palavras doces e ao mesmo tempo deliciosamente deixam saudades. Saudades de um tempo lindo, que conheci uma pessoa que fala de saudade com tanta paixao, que me deixou com lagrimas nos olhos, de cabeca baixa, em frente desse computador, lembrando que ela declamou Clarice Lispector, num lugar lindo, numa noite linda, usando um vestido estampado de verde leve, assim como é a sua alma. Minha linda, como nao ser feliz, tendo saudades de alguem tao amada como voce! NAO ESQUECE QUE AMO VOCE!!!
Maria Aparecida, obrigada pelo carinho e pelas palavras doces... você nunca esquece aquela aula sobre o envelhecer e morrer... Beijão e sucesso!!
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